anotações de uma cultura acelerada

Shamrock (13)

"Na América é tudo diferente - os conceitos, principalmente. Mesmo contextualizando. Imaginem um bar com balcão corrido de madeira, bancos altos, duas mesas de bilhar, setas, o "Like a Hurricane" em fundo, barulho, muito fumo e eis que, o jack chega-se à jane e diz i can tell you taste like the sky cause you look like rain. A continuação da história é irrelevante, feita a apresentação".

Assim, de forma mais ou menos sinistra, Shamrock leccionava política internacional, coligindo estudos demográficos e rough guides para a paz. Era o intervalo para almoço e ninguém realmente ligava ao que ninguém realmente dizia. Pertenciam ao novíssimo esplendor na relva, um tracejado semicondutor sobre placas verdes telúricas, solda, juntas e isolamentos, marcando o regresso à arte antiga de trabalhar o boro e o fósforo. Não conseguia ver nada que pudesse chamar seu. A terra era uma nação estranha e mesmo os circuitos, apesar de mais estáveis, também cediam, regulados por contingências orgânicas e sujeitos à entropia decorrente dos episódios casuais de desnaturação. E vago, demasiado vago e indistinto de modelos experimentais, exercícios teóricos, formulações matemáticas e talvez contas de rosário. "Ouviste os discos do Sondre Lerche?" perguntavam-lhe de uma mesa contígua, naquela plataforma onde queriam que confraternizassem, tomassem café e eventualmente discutissem o cisma do povo hebraico. "As músicas têm demasiados acordes" - "É! O gajo não as deve conseguir tocar ao vivo" - "Pá não sei, talvez com uma banda de músicos de estúdio". Aquiescer, anuir e derivar. Reading, writing and arithmetics. O telemóvel estava vazio de mensagens mas tinha conseguido baixar um pouco a saturação.

Blog de Pedro Lago

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