Waterloo Station
No fundo tratava-se de uma pequena seita decorrida da outrora influente comunidade penpal do Benelux. Distinguiam-se por trazerem uma ridícula folha A4 com a tablatura do Waterloo Station, sempre segura na mão esquerda, sempre nas rondas de fim de tarde de sexta-feira. Estas voltas, conhecidas no meio como o cerco da estação, eram mesmo o único traço de unidade; a tristeza que vestiam ou os sobretudos não passavam de simples adereços e camuflagem urbana, perpétua, dissimulada dentro dos Starbucks e estações de metro, anuviada entre toldos e chapéus de chuva. Desejavam entrever Terry e Julie e sentir a corrente que os levava para o restaurante do outro lado do rio, escutar o murmúrio desse caminho, atravessar nas mesmas ruas. A maioria nem conseguia tocar guitarra e os signos sobre a letra eram rudimentos crus no meio de uma formação clássica - ambientes com demasiados pianos Nelson & Wiggin e órgãos Rodgers Trillium para que tudo pudesse correr bem. Numa cerimónia simples e devota, tocavam a música à noitinha, num Casiotone guardado no quarto, depois de cumpridas as obrigações com a escolástica, o enfusto em aço, e a música de câmara. Quando se encontravam, nos tais cafés próximos da Waterloo Station, perscrutavam as faces recíprocas e pensavam como seria se, no concreto, encontrassem mesmo Terry e Julie.