Shamrock
Mais um episódio do post Artur "Shamrock" e Lucinda "Sanscript"
Era mesmo a possibilidade de estar cinco minutos sem fazer nada, overdiaries e overbeings, sobre-escritos e seres-acabados no módulo "diz-me como me sinto". Pronto para mais um dia cheio de dread, un autre jour au paradis, parado diante de dois elevadores avariados num prédio em Belvedere Road. Hesitava entre a escadaria e as ruas do Bankside, entre o simples deslize e o deslizar pela vida em charme (sliding through life on charm), indeciso entre a porta da casa e a serventia da rua. A metodologia passava por carregar regularmente, seguindo um compasso não muito estrito mas certinho, nos botões de chamada dos ascensores, e esperarar por um efeito na mecânica, um nexo na biologia, pelas luzes. Eventualmente arreactivo (irreactivo para o caso), restava-lhe a profunda meditação sobre flyers, a nova literatura panfletária, ilações tipo critic's notebook do festival de cinema de Tribeca e ilusões. Persistia-lhe na vontade o regresso a Lx (nem mais), ignorando toda e qualquer forma de oportunidade, um plano de execução sumária dos sinais harmónicos da voz: por ordem, bom-senso (a oitava), brio (a quinta perfeita) e orgulho (o terceiro tom menor). Trataria depois de esmerilar os pormenores dissonantes e desenquadrados da escala cromática, ufânia e o faustu, discerníveis na massa do som apenas com os timbres mais puros, e que seriam polidos em terapias suaves de exposição prolongada. Certa vez dissera, "eu, se tivesse mesmo talento, desperdiçava-o neste instante". Não perceberam e responderam-lhe mal, com um seco "dig yourself"; cada vez mais tinha a certeza disso.
Já estava dentro de casa e ligou a televisão. Os hypes não seriam mesmo de fiar; mas as ancas (hips) , essas definitivamente não mentiam.