anotações de uma cultura acelerada

Shamrock (continuação)

A saga de Artur Samrock e Lucinda Sanscript prossegue:



Afastava-se apenas para encontrar batalhas mais distantes. Os lamentos zurziam-lhe agarrados a reconsiderações apologéticas e remissões elípticas. Podia-se pensar que cambaleava - uma interpretação livre dos passos inseguros e trajecto indefinido. Notava os cristais sob os olhos das mulheres; um qualquer efeito de sedimentação do choro, seco pelas luzes multicolores trémulas dos Strobes Chauvet CH-750, dos Laserbursts e das 20 inches Mirrored Discoballs. Shamrock reconhecia tratar-se de maquilhagem brilhante, mas limitava-se a seguir profecias antigas impressas em vinis: "it'll end in tears". Floating into the night, as lágrimas formatavam, o álcool configurava e as sleeping pills haviam de frenar a instabilidade do sistema, corrigindo os problemas de memória. As falhas, preenchidas com saibro e disfarçadas por resina sintética, continuariam a fender os dias seguintes, sulcando o embotamento e grassando o ressentimento. Entretanto, o mestre de cerimónias abandonara o house minimal, tinha tido, entre os convivas, pouca receptividade e nenhuma aceitação, e pusera a tocar uma versão moderna do "The Tide is High" dos Blondie. Era melhor assim: todos reconheciam que as marés iam altas e as raparigas sempre podiam anunciar não serem do tipo que "desiste facilmente". O verdadeiro motim surigiria quando os djs passassem o Union City Blue, definindo o verdadeiro impasse exposto no verso "Oh ho what are we gonna do?".

Blog de Pedro Lago

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