anotações de uma cultura acelerada

Fio

Regressava a casa cedo. Para ler. Recolhido no sofá, era envolvido pelo jogo de sombras projectado das palavras. Passado a fio de espada, entregava-se às silhuetas negras que subiam dos livros, dominado pelos espectros que difudiam o medo a cada movimento de página. Uma imagem pálida de tristeza que, soltando as folhas, não libertava a solidão.
Nem sabia o que lia. Comprava os livros num quiosque junto à praia durante os passeios da tarde; as life magazines estavam espalhadas pelo chão da sala sem que lhes tocasse. Era o efeito. A página opaca virada contra a luz. A sombra. A sobra.

Blog de Pedro Lago

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