anotações de uma cultura acelerada

Ano novo

Recupero a personagem Raymond, um post quase exclusivo para clientes regulares. Quando tiver tempo, reponho os posts da primeira versão do cinzel e do sobretudo no arquivo. Uma resolução de ano novo.



Os miúdos, de saída para a escola, viam-no chegar perto da manhã, pouco passava das 7 horas, miótico, inexpressivo, amarrotado sob o blusão preto de cabedal. Comentavam entre si "tem o coração parado", não reprimindo a surdina e um tom de exclamação, revelando um segredo conhecido de todos. "Não!" - diziam outros - "respira em falso".
A meia luz e o frio turvavam a visão - um efeito de enevoamento muitas vezes atribuído à nebula (por vezes usa-se o vocábulo bruma). O resto do sonho, interrompido pela manhã, era exalado num vapor quente - logo condensado no ar - dissipado pela respiração. Suspenso durante o dia. Raymond esperava por um movimento que o levasse daquela posição, siderado, com o olhar fixo sobre nada, e lhe abrisse a porta do prédio, deixando tudo para trás.

Blog de Pedro Lago

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